Cerimônia,  Na igreja

Polêmica: Casamento Católico em Taubaté Chegou a hora de você saber o motivo da proibição das cerimônias católicas fora do templo religioso

Em dezembro de 2015 a cidade de Taubaté recebeu a notícia de que a Diocese não iria mais permitir a realização de casamentos fora das igrejas a partir de 2017. Confesso que eu já estava esperando um posicionamento da Diocese, a partir da posse do novo Bispo, Dom Wilson Luís Angotti Filho. Confesso ainda que não me surpreendi com o posicionamento dele. Mas o que me surpreendeu, foram os inúmeros comentários que isso gerou em todos os lugares, principalmente nas redes sociais. Inúmeras pessoas indignadas, reclamando, criticando e até insultando a igreja católica. Mas também vi algumas pessoas defendendo, concordando e apoiando a atitude de Dom Wilson.

O fato é: nunca foi permitido realizar casamento fora da igreja! Faça uma breve pesquisa nas Dioceses vizinhas e até em outros estados e você terá a comprovação de que em nenhum lugar é permitido.

Mas então porque aqui em Taubaté sempre pôde?

De fato, desde que comecei a trabalhar com cerimonial, há mais de 5 anos atrás, posso contar nos dedos as vezes em que organizei casamentos que aconteceram dentro da igreja. Faço aqui um parênteses para afirmar que é inquestionável a comodidade e facilidade de se realizar a cerimônia e a festa no mesmo local, tanto para os noivos, como para seus convidados.

O que eu percebi ao longo desses anos foi o seguinte: o antigo Bispo de Taubaté, Dom Carmo João Rhoden, autorizava em alguns casos que as celebrações acontecessem fora do templo religioso. Contudo, alertava expressamente que o local fosse apropriado para a celebração, que fosse adequado e tivesse o devido respeito pela fé católica. Mas estas solicitações passaram a serem tantas, que começou a ser “comum” realizar os casamentos fora da igreja aqui em Taubaté. E foi justamente esta visão de que era “normal” casar fora da igreja que causou tanto espanto, e até indignação nas pessoas, quando o Dom Wilson simplesmente fez voltar o que realmente era normal: casar-se dentro do templo religioso. Então, caro leitor, o motivo é esse: nunca pôde!

Mas afinal, porquê não se pode casar fora do templo religioso? Trago aqui para esclarecimento, um trecho do Catecismo da Igreja Católica, falando sobre o matrimônio:

  1. A celebração do Matrimônio
  2. No rito latino, a celebração do Matrimônio entre dois fiéis católicos tem lugar normalmente no decorrer da santa Missa, em virtude da ligação de todos os sacramentos com o mistério pascal de Cristo (134). Na Eucaristia realiza-se o memorial da Nova Aliança, pela qual Cristo se uniu para sempre à Igreja, sua esposa bem-amada, por quem se entregou (135). Por isso, é conveniente que os esposos selem o seu consentimento à doação recíproca pela oferenda das próprias vidas, unindo-a à oblação de Cristo pela sua Igreja, tornada presente no sacrifício eucarístico, e recebendo a Eucaristia, para que, comungando o mesmo corpo e o mesmo sangue de Cristo, «formem um só corpo» em Cristo (136).

Há ainda a orientação sobre o assunto no Código de Direito Canônico:

Cân. 1118 – §1. O matrimônio entre católicos ou entre uma parte católica e outra não-católica, mas batizada, seja celebrado na igreja paroquial; poderá ser celebrado em outra igreja ou oratório com a licença do Ordinário local ou do pároco.

No meu entendimento, não que seja “expressamente proibido”, pois há sim alguns casos em que a igreja permite (como em caso de doença, ou nos casos em que um dos noivos não professam a fé católica, por exemplo). Mas ela recomenda que o matrimônio seja realizado dentro do templo religioso. Quem é católico, entende esta recomendação, aceita e obedece, e dificilmente irá querer se casar fora da igreja. E a igreja não exclui ninguém, mesmo os noivos não sendo participantes ativos dentro da igreja, ela não vai proibir que eles recebam o sacramento, pois vê neste momento uma oportunidade da pessoa se aproximar mais da fé católica. Mas o que muitas vezes os próprios noivos não entendem é que a igreja tem ordens e regras a serem seguidas por seus fiéis. Outra coisa que muitas vezes os noivos não entendem, é que a igreja também tem seus custos, tem funcionários e tem uma organização impecável com todos os registros do casamento.

Aliás, uma das acusações que mais li foi a de que a igreja, com isso, queria arrecadar mais dinheiro. Não vou me alongar aqui sobre a questão do dinheiro, mas para aqueles que questionam os valores e taxas (espórtulas) cobrados pela igreja recomendo que cliquem aqui e leiam um pouco mais sobre este assunto.

Eu tentei, mas foi difícil escrever este texto sendo imparcial, pois nasci em berço católico, e sempre aprendi sobre a igreja, sobre seus ensinamentos e sacramentos da forma mais simples possível, com toda a simplicidade da minha mãe, avós e tios. E acho muito propício mencionar aqui alguns fatos de minha família: minha avó materna se casou na catedral na década de 50, estava presente somente a família, e ela teve uma única foto do casamento para recordação. Minha mãe se casou na década de 70, em um domingo de manhã na igreja São José Operário. Na igreja estava somente ela (que nem estava de noiva), meu pai e alguns familiares. E nem foto eles tiveram. Minha cunhada quando se casou com meu irmão mais velho, não teve dúvidas de que seria na Paróquia do Menino Jesus, pois a vida toda havia participado ali da paróquia e, por ser dizimista, não precisou pagar um centavo por seu casamento na igreja. Mas eles investiram muito no casamento como um todo e fizeram uma bela festa.

Quanto a mim, sempre tive em minha consciência a importância de se casar na igreja, e fui alimentando um desejo: o de receber o sacramento no convento Santa Clara. O motivo deste desejo não era simplesmente por achar a igreja linda e aconchegante com lindas imagens europeias, mas principalmente pelo fato da igreja ter feito parte da história da minha família. Minha avó participou das missas ali por mais de 60 anos, até falecer. Minha mãe e todos os meus tios fizeram a primeira comunhão ali. Todos os meus irmãos receberam algum sacramento ali, exceto eu! E como eu participava das missas lá, contei ao Frei responsável minha história e pedi que autorizasse que meu casamento fosse realizado ali. Ele gentilmente autorizou e ainda fez a celebração. E sim, teve decoração, teve álbum de fotos e contratei uma orquestra.

Os tempos mudam, e a celebração do casamento não é mais da mesma forma de quando minha mãe e avó se casaram. E não vejo problema algum dos noivos desejarem realizar uma grande festa para comemorar este momento, muito pelo contrário, foi justamente esta celebração do amor que me fez desejar entrar e me aperfeiçoar cada vez mais nesta profissão, por acreditar no sacramento, acreditar no amor, acreditar no casamento, e acreditar no quanto o serviço da cerimonialista é importante para este momento. Quer ele seja realizado fora ou dentro da igreja.

A igreja diz que não precisa de tanta coisa assim para se casar (decoração, orquestra, foto, filmagem, etc.). De fato, não precisa mesmo. Mas e quem não quer? Quem não deseja ter um casamento lindo, “com tudo o que tem direito”? O que não se pode é generalizar. É dizer que o mercado de casamento é apenas uma indústria, pois não tenho dúvidas do respeito e da atenção que cada fornecedor tem para este momento. O que não se pode é afirmar que pelo fato dos noivos estarem investindo muito no casamento, o mesmo será frio e sem sentimento e, pior ainda, culpar as cerimonialistas como principais causadoras de problemas e atrasos nas cerimônias na igreja.

Eu concordo com a decisão da Diocese de Taubaté, e como cerimonialista, me coloco sempre à disposição, com muito respeito às regras e aos ritos do sacramento.

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